segunda-feira, 15 de abril de 2013

Hemingway e o Menor Conto do Mundo

Ernest Hemingway foi um escritor americano, nascido no fim do século XIX, que fez parte da chamada “geração perdida”, ao lado de nomes como Fitzgerald, Pound e T.S. Elliot. Autor de obras célebres como “O sol também se levanta” e “Por quem os sinos dobram”, Hemingway ficou conhecido por ter um estilo próprio de escrita, marcadamente conciso e seco.
O americano não desperdiçava palavras, e não floreava suas cenas desnecessariamente. Suas páginas são simples, sem adornos, e Hemingway não tenta tirar poesia de cada situação, exageradamente, forçadamente, o que acaba por permitir que a poesia surja naturalmente, de palavras cotidianas combinadas com uma narrativa eficiente e bem-cuidada.
Assim chegamos ao ponto principal: os contos de Hemingway. De modo geral, considero que são o que ele de melhor produziu. Digo isso precisamente por conta dessa concisão que caracterizava sua escrita. Os leitores da nossa revista provavelmente viram no texto acerca do conto, escrito pelo Gustavo, as características de concisão e tensão enfatizadas por Edgar Allan Poe. Esse é ponto assentado: o conto não desperdiça palavras e atinge seu efeito pretendido através da tensão advinda das poucas palavras.
Minha intenção aqui é a de mostrar por que considero Hemingway um ótimo contista, e é exatamente pelo que eu disse acima: sua concisão, sua capacidade de falar muito com poucas palavras e nos atingir em cheio. Por isso, não tive dúvida sobre que conto trazer. Bastante famoso, ele continua tão genial a cada vez que o leio:

Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.

Pronto. É isso. Não acho que alguém vá perguntar, mas, já adiantando: não tem mais nada, nem precisa. São seis palavras que nos contam toda uma história de tragédia. Segundo a “lenda”, propuseram a Hemingway escrever um conto que não ultrapassasse 6 palavras. E ele assim o fez. Você imagina tudo que veio antes, o casal, a gravidez da mulher – quem sabe aquela tão esperada, desejada? -, a possível preocupação com o dinheiro – no fim eles vendem o sapato, não apenas jogam fora -, a felicidade de pensar na criança, todos os meses de gestação, o nascimento e, por fim, a morte. O bebê não teve nem a chance de usar o enxoval. E o peso da tragédia familiar é atirado em nós sem um mínimo de preparo.

Óbvio que, pelas características do conto, é possível imaginar a história de modo diferente, com exceção do final, que me parece bastante claro. Mas acho que todos vão concordar: é preciso uma capacidade imensa de concisão, e uma grande sensibilidade artística para escrever o que Hemingway escreveu. O conto mais curto que já li, e também um dos melhores.

 Via: Literatortura

0 comentários:

Postar um comentário

Conteúdo Relacionado

© 2011 Uma Leitora, AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena