terça-feira, 18 de março de 2014

Cash - A Autobiografia de Johnny Cash

de Johnny Cash com Patrick Carr (Editora Leya)

John R. Cash nasceu no estado de Arkansas nos Estados Unidos no ano de 1932. Sua grande família trabalhava duro nos campos de algodão, e seu único alento era a música, geralmente gospel tocada por sua mãe. A família foi marcada cedo pela morte prematura de Jack, muito próximo de John, e apenas alguns anos mais velho. 

Quando jovem, Cash ingressou na Força Aérea americana, e foi enviado para a Alemanha. Com o seu soldo ele comprou um violão, e passou a tocar e compor. Neste período ele estava apaixonado por Vivian Liberto, que viria a ser sua primeiro esposa. De volta aos EUA, Johnny tentou trabalhar como vendedor, mas sua verdadeira paixão era a música. Ele consegue convencer o dono de um estúdio a lhe ouvir, e sua vida muda para sempre. Ele vira um grande sucesso de público e começa a vender milhares de discos, mas sua vida pessoal decai, e seu casamento entra em crise.

Johnny então conhece um de seus ídolos da juventude, June Carter, da mítica família de músicos americanos Carter. Os dois se apaixonam e se casam, mas as drogas passam a ser uma companhia na vida de Johnny que precisa de ajuda. Sendo muito espiritualizado, ligado aos povos indígenas nativos americanos e à cultura gospel americana, John consegue voltar a uma vida saudável. Seu casamento com June vira lenda pela duração e felicidade do casal, sua penca de filhos segue a herança da música e da arte. Quando June morre, Johnny a segue alguns meses depois em 2003.


A biografia que foi escrita pelo próprio Cash com a ajuda de Patrick Carr dá uma dimensão quase exata de que tipo de ser humano ele era. Um homem bom, e que apesar de errar, sabia perdoar as faltas dos outros mais do as de si próprio. Conhecemos nos capítulos o Johnny criança, inocente e que aprende como o mundo funciona. O Johnny militar, servindo seu país no exterior até se desiludir com as forças armadas alguns anos depois. O Johnny músico e compositor, que foi aprendendo as manhas do ramo musical, na mesma medida em que aprendia a apreciar todos os tipo de música. O pai, o marido, o leitor, o viajante, o homem de família, os vários lados desta figura que muitos conheceram, mas nunca tão intimamente. Como um bom contador de histórias de Rock e Country, ele contou muitas de suas histórias em suas músicas, como o motivo de sempre vestir preto. E traz novas histórias na sua autobiografia.

O livro não segue uma narrativa em linha reta, e não segue o tempo cronológico, os capítulos são divididos em grupos maiores, com um assunto geral. Ele descreve cenas de sua vida, os amigos que conheceu, seu processo de escrita e composição, seu relacionamento com a família, suas dúvidas sobre a vida e a morte, sua tentativa de suicídio, a rotina de shows e seu programa de Tv. E não foge ao assunto quando o tema é o seu longo vício em bebida e pílulas. Cash fala abertamente do início do vício, e de todas as consequências maléficas que isso causou em sua vida, incluindo a prisão e perda de contratos, amigos e toda mágoa e dor envolvidas.

A narrativa é suave e fácil de acompanhar, ele não fala de ninguém sem que antes nos apresente, dizendo quem é esta pessoa e como a conheceu, isso ajuda a se inserir em seu mundo. O mais divertido é seu espírito animado, mesmo quando fala de dificuldades, ele consegue lembrar alguma história divertida que vai te fazer sorrir. É tão estranho pensar que uma pessoa que esteve sob os holofotes por tanto tempo possa manter tal humanidade e humildade. Com certeza recomendo a leitura, e se tivesse que fazer uma crítica seria a inclusão de mais fotos do músico e de sua família, das pessoas citadas no livro. Tem algumas, mas uma edição mais completa podia ter ainda mais.

A biografia foi a inspiração para o filme Johnny & June (em
inglês, Walk the Line) de 2006, dirigido por James Mangold e com Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon nos papéis principais. Acho que o filme foi bem fiel à história do casal, e apesar de não achar Joaquin parecido com Cash, quando você olha o filme ele fica idêntico, é assustador. É uma boa dica para quem não conhece o trabalho do cantor, já que as suas músicas mais conhecidas estão todas no filme.  Destaco a cena do show na Prisão de Folsom, momento emblemático para a vida de Cash, e no filme. Eu gostei de verdade, e recomendo mesmo para quem não é fã.

Ler biografias de pessoas que admiramos muito pode ter um gosto agridoce, em que a mágica do artista pode perder o brilho ao percebermos que ele é uma pessoa real. Mas Johnny Cash se torna ainda mais brilhante quando adentramos as páginas escritas por ele ao compartilhar sua história. Eu tenho muito orgulho de tê-lo com um ídolo, agora que sinto que o conheço melhor, e sei como ele lutou pela igualdade dos seres humanos e tentou nos entender. Me parte o coração saber que ele morreu há apenas 10 anos, e que nunca assistirei um de seus shows, para conhecer pessoalmente toda a irreverência, o talento e a rebeldia do Homem de Preto. Fica a reflexão de uma das músicas que melhor o representa, Man in Black:     




Playlist obrigatória (sem ordem específica):
- Walk the Line
- I Was There When it Happened
- Folsom Prison Blues
- Country Boy
- Jackson (com June Carter)
- Ring of Fire
- Ghost Riders in the Sky
- Solitary Man
- Hurt

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